Sobre as coisas que a maternidade te ensina mas seu currículo não conta

filhos

Valorizar a maternidade como peça importante na construção da sua vida profissional não é tão lógico como deveria. Vem comigo nesse dia das mães pensar sobre isso.

A gente deveria  começar a  colocar no currículo a experiência que a maternidade traz para obrigar as pessoas a entenderem que, voluntariamente ou não, ter alguém te chamando de mãe envolve coisas diferentes, mas positivas para a vida profissional do que negativas. Envolve você mesma como pessoa única, com seus vários papéis, sonhos, expectativas, qualificação e ainda toda uma parte prática de administração de tempo e dinheiro.

Uma amiga com um cargo importante participou, junto com a equipe que faz parte, de um processo onde um orientador de carreiras (psicanalista especialista em desenvolvimento profissional e de equipe) estava disponível.  Para que conseguisse visualizar quais seriam os possíveis próximos capítulos, dentro da sua jornada profissional, ele e ela tiveram um longo processo de encontros e análise. O cara que não é um qualquer (e que a gente respeita) disse que faltava uma coisa para que ela crescesse profissionalmente ainda mais. Minha amiga deveria ser mãe para aprender a perder o controle.

Não vamos julgar aqui o que foi analisado detalhadamente e por que no contexto dela, um profissional altamente qualificado sugeriu isso. Obviamente, ela já tinha se manifestado sobre esse desejo e por essa razão, o assunto correu como uma indicação natural para ela, mas me chamou a atenção que valorizamos muito pouco esse papel especificamente como sendo realmente algo que pode acrescentar ainda mais profissionalismo para o que fazemos.  Raramente nos inspiramos na maternidade em si e pensamos em como ela mudou a nossa vida dentro do mundo corporativo.

Para algumas mães, a opção não foi ficar exclusivamente em casa disponível para a maternidade. Quem nunca desejou mais tempo com seus filhos que atire a primeira pedra! Só que o caminho, de ambas, é cheio de desafios.  E  nós que “trabalhamos fora” podemos decidir viver sentindo a falta desse tempo de presença com as crianças ou seguir destemidas entendendo a jornada própria e, sim, a escolha de passar boa parte do seu dia se dando a outras coisas com um objetivo. Ainda que ele seja apenas dinheiro na conta para um fim. Sobrevivência não é menos importante.

Só que a foto dos meus filhos na praia, na minha mesa, ao lado do meu computador no trabalho, me ajuda a respirar depois de uma intensa entrega mental e me lembra que sou quase uma versão mais baixa e sem poderes especiais de Jessica Jones, em algumas horas.  Preciso acordar no dia seguinte inteira apesar das porradas da vida.

O meu foco na foto é lembrar, não só de dar a eles todo amor do mundo, mas alimento, ensino de qualidade, assistência médica quando precisarem e a oportunidade de terem, por que não, oportunidades no futuro.

Se em uma entrevista de emprego me perguntassem sobre uma experiência prática que me ajudou a desenvolver pontos importantes para serem aplicados na minha vida profissional, contar como a palavra resiliência se aplica na minha rotina materna poderia ser exemplo. Apesar que ter filhos já foi motivo para não me contratarem, apesar do meu currículo. Para eles,  seria aquela pessoa que sempre teria muitos imprevistos no cotidiano e que, obviamente, deixariam a empresa na mão.

Só que a força da resiliência teve seu sentido mais forte e real após o parto e com tudo que veio até então, mas nunca saberão e nem sei se querem.

Mulheres, não estou dizendo que é essa a única forma de desenvolver habilidades. Estou dizendo que nem sempre a mãe reconhece sua força, seu valor e, sendo assim, é impossível convencer os outros e contribuir para que o mercado nos veja como alguém que pode oferecer algo a mais ao invés de algo a menos.

Por isso, nesse dia das mães, proponho que você, cara mãe leitora, como diz uma tia por aqui “te valorize”. Coloque no papel as habilidades que até um certificado te ajudou a aprender o que significavam, mas que a maternidade te tornou especialista, mestre ou doutora! A nossa lista pode até vir em tom de brincadeira, mas é um exercício que precisa mudar a gente por dentro, principalmente a forma como a gente se olha. Por nós!

E que essas habilidades estejam refletidas quando precisarmos para conquistar algo melhor. Que esteja tão afinado o que a gente pensa que eles consigam nos ler. Quem topa ?

Experiência

Desde 2008, venho desenvolvendo habilidades importantes para a vida profissional a partir da maternidade listadas a seguir:

Senso de urgência e habilidade para o gerenciamento de crises: Imagine ter que levantar a noite com um sinal mínimo de descontentamento que pode se desenvolver e acordar uma rua inteira. Agora imagina fazer isso de hora em hora! Trabalho e coordenação de equipe: Ou rola um revezamento das atividades para que todos possam desfrutar da vida ou alguém vai perder a sanidade mental em casa. Os meninos, com a idade, também passaram a fazer parte da equipe e por essa razão, a cada fase, um novo nível de atividade é superado e aperfeiçoado. Resiliência:  Uma mulher pode ser mãe, filha, tia, jornalista, fotógrafa, esposa, e ainda buscar por coisas novas como tentar ser escritora e especialista em mídias sociais. Tudo junto e misturado, mesmo que os papéis entrem em conflito constantemente e tendo que rever constantemente as mudanças no mundo que exigem adaptação em cada um dos papéis. Comprometimento e  Intraempreendedorismo: fui eu que fiz e tenho me desdobrado para cuidar da melhor maneira possível, diariamente, sendo criativa para “dibrar” a atual economia do país, mas com responsabilidade, investindo fortemente nos resultados futuros de caráter (que também serão os melhores dentro dos limites e além deles ). Comunicação: A casa nunca pegou fogo por uma razão.  Apesar de alguns contratempos, como uma parede toda riscada de caneta, um sofá banhado a óleo, e uma briga estranha na escola (E isso você lê o que rolou aqui – Sobre empatia e o batman). A mensagem tem sido aperfeiçoada constantemente para que cada vez mais tenhamos menos ruídos. Intermediadora em pequenos conflitos:  uma bola, dois gols e alguém precisa ser o juiz, às vezes.

1 COMMENT

  1. Excelente reflexao! Aprendemos tantas coisas sendo mães, e nem sempre isso é levado em conta no mundo do trabalho.

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