A mãe e a Ana

Praticamente todos os dias paro em frente a esse espelho muito maior que eu e reflito sobre a minha maternidade. Esse momento vem geralmente antes de dormir, após o banho, nua. Estão ali todas as minhas cicatrizes, todas as mudanças no meu corpo trazidas por eles, uma nova eu. Algumas vezes desabo, noutras me acolho num abraço, tem dias que volto no quarto deles e beijo a cabecinha de cada um, tem dias que eu apenas fecho os olhos e tenho a certeza que tá sendo massa, e que esse amor tão grande que sinto, vai me levar para qualquer caminho que eu precise seguir para fazê-los felizes e torna-los caras legais.

Ontem me aproximei bem do meu reflexo e só consegui pensar em quantas mães já fui e sou nesses 7 anos. Eu não posso falar de todas as mães, é uma experiência tão particular de cada mulher, mas eu posso mais uma vez me despir e jogar a toalha.

sapateira itu - Copia

A imagem que procuro diariamente é a minha como mulher, porque é isso que eu sou antes de virar a mãe de Vinícius e Bernardo. Quando me enxergo sendo somente eu e todas as experiências que vivi, dentro da minha condição de apenas ser mulher nessa sociedade machista e opressora (ainda mais quando se é mãe solo), consigo me abraçar, entender as minhas fraquezas e me cobrar menos, ainda que diariamente eu sinta o peso do mundo sobre meus ombros (E sim, é um exercício doloroso e difícil livrar-se dele).

Já fui a mãe inscrita no site sobre as etapas dos bebês e a mãe que comprou apenas um bolinho da Pepa impressa no papel arroz no aniversário de dois anos. Fui a mãe que deu papinha orgânica e a que ofereceu batata frita no jantar. Fui a mãe que acordou as 5:30h pra secar o uniforme escolar no ferro de passar e a mãe que esqueceu da apresentação na escola em homenagem as…mães. Já fui a mãe exausta que anda pela casa de sutiã de amamentação, olheiras e camisola e fui a mãe que deixou os filhos em casa e tomou mais de 3 caipirinhas num barzinho xexelento do Recife antigo.

Eu já fui tantas e sou ainda mais.

Eu sou a mãe que chora na frente dos filhos e explico o motivo, sou a mãe que anda pelada pela casa e deixo que eles observem minha anatomia pra quem tenham a real noção do feminino sem esterótipos, sou a que pede desculpas sem medo algum de perder a autoridade, sou a mãe que diz “se vira aí, que eu preciso descansar mais um pouco”, sou a mãe que faz conta com eles e pede pra que esperem até o dia 10. Sou a mãe que não gosta de brincar de espada, que detesta vídeo game e que faz “chantagenzinha” com um saco de pipoca. Eu sou a mãe que dorme literalmente no chão do quarto com uma almofada na cabeça se alguém tá tendo febre. Eu sou a mãe que beija o pescoço, a boquinha, os olhinhos, o pintinho, a bundinha, a barriga, as mãozinhas.

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E tenho sido feliz assim, com todos as imensas alegrias e um mundaréu de coisas difíceis.  Sou muito grata por tê-los em minha vida e aceito sem culpa o meu desejo de tê-los bem distantes em outros momentos, repito que está tudo bem não ter paciência tantas vezes, e que está tudo bem também sacrificar algo importante em nome da diversão e do bem estar deles vez ou outra. E que todas as experiências dessa relação sirva para nós três sermos amáveis, solidários e  uma família que se respeita, inclusive quando não formos tão bons, quando formos somente ser errantes e fracos.

É essa mãe que eu sou, que eu vejo e que eu respeito. E são homens honestos e sensíveis que eu espero que eles se tornem.

Torço para que nós três sejamos sempre uma bela imagem.

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6 COMMENTS

  1. adoro esses posts sobre a sua maternidade. Lindo. Menos a parte de beijar pintinho, é muito pra frentéx pra mim rsrs

  2. Nossa , emocionante sua mensagem , eu pude entender perfeitamente , apesar de nao ter filhos. Parabéns , certeza que você é uma mãe de primeira , e está preparando dois homens de primeira , fique com Deus, sou sua fã . bjs

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