Sobre um dia de raiva do menino

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“Você já viu alguma criança que tem em casa abertura para expressar seus sentimentos, principalmente sua raiva?””

Óbvio que não, respondi. Se o menino começa a chorar vem um “não precisa, um já chega, um para”. Se tem que fazer algo que não quer é um “melhora essa cara” que vem. Se começa a brigar com os colegas na escola, não que eu aprove, a professora já chama a mãe pra conversar. Não pode soltar um MELECA! que seja, quanto mais dizer um palavrão.

Onde?

Na minha época era ainda um pouco pior. Apesar que alguns vão dizer que era melhor, que as crianças eram mais educadas. Não é esse o ponto. Criança não dava opinião, não falava nada e eu…uma vida inteira sendo em momentos desaforada. Era a cria do gênio forte, “maleducada”, cheia de vontade.

Mas aqui na casa 25 acontece tudo que acontece no resto das casas com crianças, pelo menos na maioria das vezes. Menino se diverte, menino fica de castigo, menino bagunça tudo, menino… Como em outras casas e apartamentos por aí, menino não tem espaço pra raivazinha não. Tem muito melhora essa cara por aqui.

Até outro dia, um sábado desses, um dia de reflexão que flimmmmmm flommmmmm (música de mágica no ar)

Minha mãe ligou cedo pra já deixar certo que os guris iam pra casa dela ficar até domingo. Combinado, tudo certo, normal…Os meninos amam dormir na casa das avós. Não precisa ser sábado, segunda, quarta…qualquer dia. Se deixasse, iriam quase todos. Quem não ama casa de vó?

O amor durou até o grito dos gêmeos que moram ao lado.

Perceba uma coisa: crianças são tão instintivas, verdadeiras, sinceras. Entre brincar e comer? Brincar. Entre assistir  tv e fazer o dever de casa? Assistir tv! Entre ir pra casa da vó ou ir para uma festinha de criança cheia de coisas legais e doces com os gêmeos?! Sorry, ir ficar com o gêmeos! Não que não ame a vó, não que casa de vó não seja o melhor lugar do mundo…tsc tsc. Não, mas é diversão! É correria!

– Não, filhote.Já falamos com a vovó. Cê vai pra lá com seu irmão, hoje o papai e a mamãe vão sair, a vó quer ficar com vocês desde a semana passada e não deu.

Choro, choro, choro e raiva. Sim, ele sente raiva. Ele prefere ficar com os amigos! Essa é a vontade dele e poxa! que problema há nisso?! Nenhum. Ou seja, tudo continua marcado! Vai pra casa da vó.

Ele continua chorando, inconformado com a decisão e eu fico naquela: se deixar dessa vez, vai chorar sempre. Coitado! Não digo que tem vontade? Que tenho que respeitar e tudo!?

Pego um papel enquanto me viro com o almoço, lápis de escrever de cor e sugiro num reflexo maluco de compaixão e dureza.

– Vem cá! Vem fazer um desenho legal. Você vai fazer um desenho com tudo que está sentindo…Quero que você tente desenhar como está agora. Tá triste?! Tá feliz?! Como você está se sentindo.

Um bicudo vem a mesa e com a cara mais feliz do mundo #sqn  e começa a desenhar. Finjo que não vejo, que estou ocupada pra ele se sentir livre, mas no canto do olho reparo os traços e tenho muitas dúvidas se o plano vai dar certo. Com vocês o resultado:

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Agora vem a parte difícil. Fez o desenho, até o sol tá triste. QUE QUE EU FUI INVENTAR, MEU DEUS?! Que mãe sem coração é essa?!!?!??!?!?!??!?!?!?!??!Tem camisa da tristeza, porta da tristeza, cara flutuante da tristeza! Guenta coração!

– Agora a gente vai desenhar outra coisa atrás!

Tive uma ideia. Todo final de semana, em um dia, a gente deixa eles dormirem no nosso quarto. Trazem os colchões e não dormem na minha cama, né?! Num dou conta, gente! Os meninos tão crescente.  E eu que não durmo com eles se forem pra lá. (Desculpa, sociedade! Eu penso em mim.) haha. Enfim, trazem os colchões e esse é um dia que eles curtem muito. Sempre perguntam quantos dias faltam e tals pra chegar o dia de dormir no quarto da mamãe e do papai e eu inventei isso pra pararem de ir pra minha cama nos outros dias.

– Lembra que aconteceu hoje, filho?! Quando você acordou, você tava muito feliz. Vou até te ajudar a desenhar um sol. Tenta lembrar… A gente vai fazer juntos.

Milagrosamente temos 30% do bicudo só. Pergunto que música ele quer ouvir, um rock  pra ajudar e ele escolheu The Pretender do Foo Fighters. (Sim, bom gosto musical)

E aí… chegamos aqui.

 outra

Ele ficou tranquilo quando terminou o desenho, foi correr lá fora.

E eu fico pensando: que sentindo tem um lembrete sem atitudes?!

O que nós estamos fazendo pra tentar ajudar nossos filhos a compreenderem seus sentimentos?! Há algo diferente, melhor, há tentativas disso?!

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O Levi não achou certo eu não tirar foto do desenho dele e tirou sozinho. TSC TSC…Tenho que ser justa! Está aqui.

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É a neta de D. Edite. Ana comanda o #ACQMVQ há 15 anos e vive diariamente decorando aqui e ali. Trabalha home office produzindo conteúdo para o blog e outras empresas. É mãe solo, escritora, empreendedora e pesquisadora dos jeitos de morar. Atualmente está debruçada sobre como a nossa criatividade pode tornar os nossos lares verdadeiramente afetivos.
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18 COMMENTS

  1. Gabi, bom dia! Não costumo comentar os posts…mas li o texto, li novamente e mais uma vez…e por mais que eu tente, não entendi. O lembre no celular não era em relação a ter escolhas? Então, o Gael pôde ficar com os gêmeos?
    Desculpa, não estou criticando de forma alguma. Apenas não entendi a relação “O Gael precisa ter o direito de escolha” com o objetivo do desenho.

    • @PRISCILA, Eu também não entendi o desfecho, nem o propósito.
      Agora uma dica de uma ex-professora de Artes pras mães: fujam dos caderninhos de colorir, esses de figuras prontas! Não há nada que atrapalhe mais o desenvolvimento da habilidade para desenhar de uma criança – sobretudo se ainda não sabe escrever – do que dar um desenho pronto pra ela! Quando ela compara seu próprio desenho com o de um adulto, vai ver que está em desvantagem e “nunca mais” quer criar mais nada da própria imaginação. Começa com desenho e depois acha que não tem capacidade pra nada artístico, artesanal, manual… Deixem desenhar de próprio punho pra desenvolver a criatividade! Se não, depois que cresce ainda fica querendo comprar caderno de colorir pra adulto!!! credo!!! kkkkk

      • @Letícia, Ufa! Sem querer sigo sua dica. Pego folhas de rascunho e mando encadernar na papelaria perto de casa…faço carninhos para a Maria Luisa (2 anos e 2 meses). Ela risca, colori, desenha (ou tenta) e principalemnte pede pra gente desenhar. Eu tento desenhar, mas confesso que sou muito ruim nesta parte. Meus desenhos são beeeemmm infantis, árvore, casinha, borboleta e corações são o que consigo. Acho que neste caso é vantagem, né???

  2. Confesso que também não entendi muito bem o texto…
    A relação da escolha com o desenho, alguns parágrafos precisei ler duas vezes…
    Seus posts são sempre ótimos, mas ficou faltando uma conclusão.
    🙂

  3. Oi, Gabi! Achei tanto o texto quanto as suas ideias lindos!
    Pelo que eu entendi, o texto não é necessariamente sobre promover escolhas, mas sim sobre permitir às crianças que expressem seus sentimentos, ainda que nós mesmos não saibamos lidar com eles.
    Acho que o que a Gabi quis dizer é que fomos todos programados para reprimir (mesmo que de maneira inconsciente) certas emoções que as crianças expressam, tal como a raiva. O que a Gabi fez ao dar um papel e caneta na mão de seu filho foi incentivá-lo a colocar para fora o que estava sentindo e, depois, através da sugestão do segundo desenho, o lembrou de uma situação feliz, o que fez com que ele se acalmasse, sem que ela precisasse recorrer à repressão dos sentimentos do filho ou à redenção de suas vontades (não ir a casa da avó e ficar com os gêmeos).

    • @Aline Laitarte, não esquecer, mas pra entender seus sentimentos quando há frustração. Acho que fazer ele entender o que sentiu e ajudar para que aquilo fosse “melhorado” também é respeitar a criança, ainda que nem sempre suas vontades sejam feitas.

  4. vish, eu mandaria ele pra festa dos gêmeos sem pensar duas vezes. Mas gostei dessa ideia dos desenhos, quem sabe quando meu Pedro crescer mais um pouco eu faça essa experiência com ele =)

  5. Eu ainda não tenho filhos, mas eu achei simplesmente lindo o modo como as coisas foram resolvidas. Às vezes, criança é mesmo como um mini-adulto: sente como a gente! E dá-los o direito de expressar isso é mágico.

    Beijos e até!

  6. Será que foi só eu que entendi o texto? kkkkkk
    O direito de escolha existe, mas é importante os filhos aprenderam que se já haviam escolhido e concordado em ir para a casa da avó, não haveria retorno, pois outras pessoas estavam envolvidas em suas escolhas.
    Não posso dizer se teria ou não permitido eles irem à festa dos gêmeos.
    Mas o desenho foi uma forma dele avaliar a escolha que fez anteriormente.
    Muita gente diz: “Cadê o direito de escolha? Eu deixaria ele ir à festa e fazer o que quiser”
    E eu respondo: Por isso há tantas crianças mimadas e cheias de si que se tornam adultas sem compreenderem o que suas atitudes representam na vida de suas famílias.
    Ótimo texto.

  7. Gabi, gostei tanto da sua sacada em tentar que ele desabafasse num desenho… muito, muito bacana!
    Repreendemos muitas emoções de nosso filhos, não grita, não precisa chorar, não corre que vai cair, não pula aí, não faça bobeira e por aí vai…. “quando crescer, quero ser criança”, alguém falou
    Precisamos rever atitudes enquanto mães, essa missão linda e difícil de tentar guiar.
    Obrigada pelo seu texto, amei!
    E parabéns pela escolha musical dele, com certeza teve influência…!

  8. Post lindo, seu texto e sua atitude foram de tamanha sabedoria, quanto amor e paciência. Você foi uma gênia! Parabéns, eu adoraria ter toda essa dedicação ♥
    Beijos, Gabi

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