Por que eu não sou a metade da mãe que tento me convencer que sou

Dia desses li de alguém que eu não era a metade da mãe que eu tento me convencer que sou,  e como maternidade é um dos assuntos que tratamos aqui no blog, gostaria de falar porque essa pessoa tem razão Realmente eu não sou a mãe que eu tento me convencer que sou, amém.

Ainda quando estava grávida do meu primeiro filho, o famoso Vinico, tentei ler toda a literatura do mundo a respeito de como cuidar de um bebê, baixei livros, entrei em grupos de mães, conheci mulheres na mesma situação (grávidas) e todo o bêabá da mulher super bem informada que vai parir. Lá no meu íntimo eu achava meio um saco, mas não admitia o quanto tudo era penoso, afinal , que dádiva! Daí ele nasceu e eu passei longas noites em claro e na maioria delas, sozinha, já que eu não trabalhava fora, como se eu não trabalhasse dentro… E o tempo foi passando, passando, ele cresceu, muita coisa aconteceu, e até que por uma decisão a dois, engravidei novamente.

As minhas gravidezes foram sempre difíceis: enjoos muito fortes até os 5 meses quase 6. Chorei muito de arrependimento nas primeiras semanas, uma culpa misturada com uma luta imensa em aceitar que era o meu desejo, que eu tinha programado, que tudo o que se passava na minha cabeça era somente culpa dos hormônios, que tudo daria certo, até hoje  não entendo muito bem. Ah, eu nunca fui uma grávida de conversar com as minhas barrigas, na verdade sempre pedi para os pequenos monstrinhos que morararam ali, ficarem quietos pra eu respirar melhor, para eu dormir melhor. E só pra constar, tive um segundo parto traumatizante e violento, e minutos depois, descobri um novo amor. Nós mães vivemos numa dualidade imensa.

Daí pouco mais de ano eu virei uma mãe solo (Como diz o Papa, não existe mãe solteira, mãe não é estado civil), e hoje sou uma mãe com uma nova vida e com um namorado. Paro pra pensar que tenho somente 33 anos e rio disso tudo. Eita vida doida da peste.

Mas vamos focar no título desse post, né?

ana e os meninos

Tendo exposto essa breve história da minha vida materna e percebido que realmente nunca romantizei a maternidade, mesmo inconscientemente,  tenho que aplaudir mais uma vez o quanto essa outra pessoa que me falou isso tem razão. Bravo, bravo!!!

Não preciso ser essa super mãe que eu tento ser através de todas as minhas auto-cobranças e das cobranças machistas alheias. Só preciso ser quem eu sou, sem me tentar me convencer de nada, preferencialmente. Sempre achei a maternidade também um caminho muito cruel e dolorido, porque estou tentando acreditar no contrário? Há sete anos era um saco decifrar choros intermináveis, há dois anos foi horrível andar por um corredor sangrando, morrendo de dor e frio, sozinha. Controlar febre, tentar colocar o cinto de segurança no bebê conforto enquanto o pioio se debate, não poder cagar (desculpem) em paz lendo uma revista, não acompanhar meu namorado em um show, deixar de comprar algo pra mim pra pagar a mensalidade da escola…São exemplos rasos, corriqueiros, coisas de “quem tem filhos”, porque ainda existe um outro lado mais intenso e avassalador, mas deuzulivre falar sobre essas coisas mais íntimas aqui, porque podemos ter bafafá polêmico na vida real e na virtual, deixa quieto, pra um outro post. Ultimamente tô muito zen.

Mas sabe a melhor parte disso tudo? É que nada disso tem a ver com  o AMOR que sinto por eles. É um amor que cuida, que abriga, que é intocável em sua plenitude. Posso ser uma péssima mãe diante dos olhos de quem for, não preciso de aprovação. O retorno de toda a minha doação está diante dos meus olhos, diariamente, me provando que eu estou no caminho certo sim, ainda que cometa deslizes diários, falhas imperdoáveis, erros desnecessários. Tudo isso a gente descobre tentando acertar, e todo dia antes de ir deitar, quando dou uma passadinha no quarto deles, a satisfação é garantida.

Na terapia aprendi que todos os meus sentimentos são reais e legítimos, até os mais temidos por mim mesma, até os mais desdenhados por outras pessoas. Talvez eu não tenha muita vocação pra maternidade ROMANTIZADA mesmo, meus filhos me conhecem com cada uma das minhas qualidades e defeitos, e mostrar no dia a dia o quanto sou humana só me aproxima deles, ainda que os queira distantes em alguns momentos, quando estou cansada, precisando cuidar de mim mesma ou apenas querendo ter uma noite #hot com meu namorado. Tá tudo bem, não há nada de errado nisso.

Dia desses gritei loucamente com Vinícius, me descontrolei com Bernardo e vim dirigindo aos prantos, pedindo pra que pelo amor de Jah eles parassem de brigar ali no carro, que eu não tinha condições emocionais pra fazer duas coisas ao mesmo tempo e que precisávamos chegar vivos em casa. Quando estacionei eu desabei ainda mais, e chorei soluçando durante dois minutos enquanto eles me assistiam pelo retrovisor.  Quando entramos em casa, expliquei que ser adulta é difícil, que ser mãe é trabalhoso pra caramba e que o que eu mais desejava naquele momento era dormir. Vini me olhou e disse “Pode chorar mais um pouco, mamãe. Agora dormir só mais tarde, porque você ainda precisa cuida da gente, né?”. É claro que sim, filho. E é lindo você saber que eu estou aqui e ter essa confiança de que sempre estarei por perto.

Não sou a metade da mãe que tento me convencer que sou, eu nunca fui. Mas venho descobrindo que sou melhor, bem melhor <3

15 COMMENTS

  1. Sempre muito reconfortante ler textos reais, de pessoas reais!!!..faz c que eu me sinta tb real e não fruto, o tempo todo, do que esperam de nós!!!…Meus filhos já cresceram, uma c 24 e outro c 19 e sinto as mesmas dificuldades, ainda, que vc!!!..Pq a cobrança é sempre muito gde e eles crescem sim, mas as cobranças, não, esses duplicam!!!Não acho q fui excelente mãe, em tempo integral..dei meus gritos, quiz fugir ou esconde-los, varias vezes senti vontade!!!Me cobro muito ainda, menos que antigamente, pq tb descobri que o importante mesmo é o amor enorme que sinto por eles e o estar disponivel, sempre, nos momentos em que eles mais precisam!!Ainda tenho remorso se não deixei aquela comida gostosa, ou se dei um belo grito p q me ouvissem (os vizinhos devem falar ate) mas me controlo nas cobranças comigo mesma, pq tb quero ser paparicada cd vez em qdo e eles já pódem me dar esse retorno!!!E pq não sou mãe-mulher-esposa-funcionaria-filha/maravilha!!!Sou humana, cheia de falhas e sentimentos, e quero ser tratada c tal!!Sou sua fã flor e siga em frente confiando sempre no seu amor por eles, o resto…vemmm!!!!

  2. Ana a realidade é sempre muito difícil por mais que as mães não admitam.Nunca é esse mar de rosas todo.Mas ok, é ser humano, é aprender com os erros e sempre tentar fazer melhor.E isso de longe da pra notar que tu faz.Sempre penso no quanto teus filhotes tem cara de crianças sapecas mas felizes sabe.Não sei se me expresso bem,mas é que eles deixam transparecer todos cuidados que tu tem nos seus sorrisos.Amo tua sinceridade e te desejo mta felicidade e luz no teu caminho.Aqui de longe fisicamente mas perto sentimentalmente,de verdade.Beijão queridona!!

  3. Me emocionei com o comentário do Vini. Que coisa mais fofa. Bom é saber que apesar de pequenos, eles tbm nos acolhem 🙂

  4. Texto emocionante e real!!! Precisamos sempre ler textos assim, porque o mundo nos cobra demais, julga demais. E nossos filhos são nossa maior benção, mas também nosso maior pesar. É cansativo? É. Mas quando ouvimos comentários como o do Vini, é que nos dão fôlego pra seguir em frente e ter certeza que estamos no caminho certo. Tenho uma filha de 3 anos, e cada vez mais percebo o quanto ela é observadora e sensível. E é tudo de bom esse carinho que recebemos deles!!

  5. Chorei, de emoção pela sua vida e pelas lembranças do tempo em que vivi tudo isso, exatamente assim, mãe de dois meninos, divorciada quando um deles tinha um ano e o outro três anos, jovem como você, querendo namorar, ser mãe, me divertir, levar os filhos prás festinhas infantis, querendo ir prá balada, querendo ficar só de vez em quando, enchendo de beijinhos minhas criaturinhas lindas. Que saudade desse tempo de tantos conflitos Ana, hoje meus filhos cresceram, são jovens adultos e mentem prá si mesmos que podem andar com suas próprias pernas, e eu querendo que dependessem mais de mim, e mesmo que crescidos, vou cuidar a vida inteira, vou me preocupar, vou tirar de mim prá eles, sempre que precisarem, e seja o que for. E tudo isso que passei, assim como você, foi com esse mesmo sentimento dúbio, de quem os ama além de suas próprias forças, mas que também viveu momentos em que tudo que queria era um descanso. Erramos tentando acertar, e tenha certeza que mais adiante você terá o mesmo sentimento que tenho hoje, nunca fui perfeita, muito menos uma mãe perfeita, mas fui e sou a melhor mãe que eles poderiam ter.
    Bjs,

    Ana

  6. Outro dia li seu post sobre o corre diário, sobre o chuveiro queimado. Hoje lendo esse e somando a eles alguns de suas postagens no Instagram, me deu vontade de dizer: quem bom que existem blogs desse nível. Que bom saber/confirmar que existem pessoas reais de verdade na blogosfera. às portas dos 59 anos, tendo passado por caminhos e descaminhos que incluem a perda de um filho por causa de drogas, fico imaginando como se sentem as jovens mães que se sentem como você, que vivem os mesmo conflitos e dão de cara, cotidianamente, com postagens que que parecem sair de filmes hollywoodianos, onde tudo chega a ser chato de tão perfeito. Acho que nunca escrevi um comentário tão longo (alías sou uma egoísta que raramente comenta o que lê ou vê), mas me deu uma vontade de agradecer porque tenho certeza que você tem ajudado a levantar a moral de muita mulher/mãe por aqui.
    Gratidão
    Neusa, AVó

  7. Cara, que texto!
    Dificil se manter nos trilhos emocionais, quando o mundo te cobra uma perfeição e uma romantização de tudo, porque daí você descobre que não é aquela mãe perfeita mas nem pode contar isso em voz alta porque logo terão trocentos dedos de condenando.
    Dificil, bem dificil.
    Mas em meio a lagrimas, gritos, vontade de sair correndo até as pernas doerem, a gente se encontra e se reencontra, acha nosso ritmo, equilíbrio, paz em meio ao caos e se apoia nas crias dando apoio à elas.
    Beijos em todos vocês.

  8. Adoro seus textos, e fico emocionada e muita vezes como hoje lagrimas escorreram pelo meu rosto.
    Ainda não sou mãe ( mesmo tentando a algum tempo) mais sou filha de uma mãe que passou por tudo isso e olha que naquele tempo (36 anos atrás) tudo ainda era bem mais complicado para uma mãe ” carreira solo”. E o que posso dizer é não desanimem pois meu maior exemplo é minha mãe, uma mulher forte que teve tantos obstáculos para cuidar de duas filhas e o que o que eu tenho só a agradecer pelo amor infinito que me foi dado.
    Mães o que seus filhos precisam é desse Amor e que eles possam sentir e ter a certeza de que sempre vocês estarão por perto e que vocês são nossas Heroínas.

  9. Lindo e verdadeiro seu texto!!!
    Em uma sociedade que só passa o belo e perfeito o tempo todo, e por isso nos sufoca tanto, pois não somos perfeitas e não vivemos na perfeição… Maternidade é essa dualidade descrita e sempre digo erramos por amor também, não temos todas as respostas e desculpa estou em obras o tempo todo…
    Beijosss

  10. Estou contigo, tambem não sou a metade da mãe que gostaria, me sinto constantemente frustrada, ma e daí, quando vejo aquela boquinha cantar “mãe eu não te mereço”, meu ego desmorona, perco o chão e percebo que estou fazendo certo, pelo menos o meu certo o meu melhor, danem se as opiniões, cada um seja mãe a sua maneira, sem regras…

  11. Ana… Sempre senti olhares atravessados quando falo algo sobre maternidade sem romantizá-la… Mas vou continuar falando!!!! Pq sempre tem uma mulher precisando ouvir pra saber que ela não é um alien insensível!!!! Também não sou metade da mãe QUE OS OUTROS gostariam que eu fosse. Mas sou pra minha filha a MELHOR pessoa que já fui em todos os meus 37 anos. Ninguém tem de mim o que ela tem. Portanto, sigamos na luta contra a hipocrisia, julgamentos e culpas. Por menos grupos de mães no uatizápi cagando regras e por mais grupos de mães fazendo revezamento em cuidar dos pioios prazamigas puderem dar uma fugidinha pelo menos uma vez na vida!!!!! #tamojunta

  12. Como nao amar essa família!!???
    Obrigada por seres a mãe que és, criando homens de verdade, sensíveis, honesto consigo mesmos…
    Força sempre, Ana.
    Bjus

  13. Ana, não tenho costume de comentar, acompanho o blog a anos, e preciso mesmo é te parabenizar! TU É UMA MULHER E MÃE INCRIVEEEL! simples, realista, dedicada, atenciosa, seus textos são incriveis, reflexivos, reais, acho muito bacana mesmo, é isso, parabéns, e obrigada por compartilhar suas ideias, reflexões, dia a dia, familia, e que fofurisse o Vini, coisa linda, me emocionei, parabéns pelos filhotes lindos!! sucesso na nova fase Ana!! bj

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here