O dia que obriguei meus filhos a brincarem

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Quando eu era criança, minha mãe sempre limitou meu acesso a TV. E sabe que eu não perdi grandes coisas, eu acho. Vi os desenhos mais legais que existiam como os Jetsons, Super Mouse era meu amigo, os Popples, Muppets…Esses e tantos outros que consideram legais pra caramba. A maioria dos meus amigos assistia televisão bem mais do que eu e naquela época,  achava aquela determinação da Dona Cleuza um saco.

Também não tinha muitos brinquedos. Meu pai trabalhava um monte pra fazer as coisas acontecerem em casa e minha mãe ajudou bastante vendendo pão de queijo num postinho no Guará, um bairro de Brasília. Eu era uma criança sem TV, sem muitos brinquedos, com dois irmãos um pouco mais velhos…Fui obrigada a brincar. Lembro de uma vez desenhar um amigo na parede da varanda de casa. Sempre tiveram muitas histórias na minha mente de aventuras, de labirintos e castelos, tenho na ponta da língua muitas cantigas de roda e muitas cicatrizes na canela. Marcas que hoje, já adulta, tenho MUITO orgulho.

Aí, pra encurtar até onde quero chegar, um dia virei mãe de um e depois de mais um menino.Tenho dois.

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Lembro que até o Gael completar uns sete meses, ele não parava nunca pra assistir tv até que descobri a Galinha Pintadinha. Acho que temos que reconhecer quando uma coisa realmente te ajuda e se pudesse, daria um beijo nessa Galinha.  Ela salvou minha vida! Com ela pude escovar os dentes antes das 16h, pude comer a comida na segunda marcha e não a 250km por hora. Um dia, gente…Só pra você ter ideia, eu consegui pentear meu cabelo de manhã. Não fui deixar o lixo lá fora de casa parecendo a louca dos dinossauros. Cara, foi uma grande descoberta.

O único problema é que nada mais servia sem ser isso. Tudo bem,  já era um avanço. Só que como toda criança, ele se cansava da Galinha e queria brincar e começou a crescer e inventar brincadeiras pra se distrair sozinho e eu me orgulhava tanto disso. Aí veio 2 anos, 3 anos e o meu segundo filho nasceu, Levi. Gael começou a gostar de super-heróis e queria sempre saber o que o capitão América fazia, o Hulk, o Homem Aranha…começou a gostar de TV e como eu tava sempre ocupada com um bebê em casa, deixava ele assistir um pouco mais. Levi cresceu um pouquinho, fez dois e  chegamos ao ano passado.

Um dia no Facebook li um texto muito bacana de uma mãe brasileira que vive nos EUA e que na escola onde suas filhas estudam os professores pedem que as crianças não assistam TV durante a semana. Tem uma série de estudos citados por aí que associam algumas coisas ruins ao aprendizado das crianças a televisão e tals…Enfim, na doida, resolvi fazer um teste em casa retirando o pouco de TV dos meninos por uns dias.

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– Começo amanhã.

Tínhamos uma rotina. Faziam o dever de casa e quando ia pra cozinha fazer o almoço, os meninos assistiam TV. Era um costume.

Um tempo atrás, antes de tomar essa decisão, percebi que eles tavam brincando pouco com seus brinquedos e necessitando cada vez mais de um adulto, um negócio a mais pra se distraírem. Era iphone e mil joguinhos, o tablet. Gael também estava mais disperso na escola, mais distraído e os deveres de casa, óbvio, um tanto estressantes pra ele.  Levi acompanhava o irmão em tudo dentro de casa. Ainda não podia dizer sobre o seu desenvolvimento escolar, em casa.  Sei que ele não brincavam tanto juntos.

No primeiro dia da nova empreitada fiz jogos com eles, brincamos lá fora, atrasei o almoço, mas não tinha problema. Estava resgatando meus filhos sei lá do que mesmo. Veio o terceiro, o quinto… Teve um dia que tava tudo atrasado. Tive que deixar eles se virarem um pouco só e aí o caos começou. 40 minutos chorando pedindo TV, eu dizia pra eles brincarem e o mais velho respondia: Não tem nada pra fazer?! Só brincar!? Já brincamos hoje.

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No outro dia também não teve como distrair eles. Perceberam cedo que não iam assistir TV e mais choro e reclamações. Lá pelas tantas, sempre depois de uns 30 minutos odiando a ideia, começavam a brincar com seus brinquedos,  sozinhos, juntos.  Todos os dias pediam, por favor, só pra ver seu desenho preferido e eu queria deixar. Qual era o problema?! Essas mães radicais…Só uma vez, vai. deixa?! Siiii… Não! Alguns dias eram mais fáceis e em outros batia um desespero. Ficava pensando o que pelo amor de Deus eu ia fazer com dois guris em casa sem tv.

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Na segunda semana, Gael já mostrou uma melhora significante na hora de fazer os deveres da escola. Estava mais atento, mais interessado e nas brincadeiras em casa, mais criativo. Melhorou o humor  (tem horas que ele está com a disposição de um velhinho de 80 anos, tá?!), melhorou o comportamento na escola e a atenção a ordem da professora.

Foi quase um mês assim e tivemos muitos progressos, momentos cansativos, mas muitas horas bacanas em família. Vídeo game, tablet, celular foram pro final de semana, com os horários de acesso bem reduzidos. Adotamos a prática só que o tempo passou. Vieram as férias e liberamos mais a TV. Agora, em fevereiro, eles voltaram a ficar sem durante a semana.

Sou dessas mães que inventam moda quando leio uma coisa legal na internet e na hora de botar em prática tenho preguiça, acho difícil, nada prático e desisto…Faço coisas por eles importantes e responsáveis, mas também dou um biscoito antes do almoço se tenho que atender uma ligação e eles simplesmente não ficam quietos. Já dei balinha pra pararem de chorar…

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Você não vai me ver sendo uma chata e te  mandando desligar a tv por causa de um monte de pesquisa, mas também não vai me ver negar que no dia que obriguei meus filhos a brincarem mais desligando a TV, coisas significativas aconteceram na minha casa. Desculpa, aconteceram.

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24 COMMENTS

  1. To começando a adotar uma rotina para o meu mais de dez anos. que difícil… ele via tv sem nenhuma restrição, agora limitei o tempo e o horário… terei ainda que fazer ajustes, mas acho que é mais saudável desse jeito! ADOREI SEU POST tbm sou meio louca assim…

    • @Mariana, boa sorte aí! Vai ser difícil e sempre vai ter um dia que a gente quer jogar tudo pro alto e desistir da ideia…Até hoje os meninos pedem, dão um chorinho, mas eu insisto. Resisto enquanto posso! Sei que eles vão me agradecer um dia. Ou não. rs Tomara que sim!!!

  2. Gabiroba adorei o texto. Eu também sabe tento controlar um pouco, mas infelizmente a minha realidade é um pouco diferente pq eu sei q o dia q tenho q trabalhar o dia todo é um dia na frente da tv. A minha ultima catada agora foi uma cadela. Linda. Amorosa. Acho q ta fucionando com ela dentro e eu fora acho q consegui diminuir uns 5 minutos nessas tardes rs. E tablet, computador, xbox so fim de semana. Sei q estamos criando homens e mulheres q faram a diferença 😉 super apoio por mais dificil q seja :-*

  3. Gabi, adorei seu post… muito legal compartilhar conosco sua experiência! Aqui em casa, ver desenho é até reunião de família, rsrs, pois tem muita coisa boa, ensinando sobre assuntos bacanas. Só não pode ser em excesso, aliás, tudo em excesso é ruim né!? Já tecnologia, acho que pode esperar… esse mundo é inevitável, então o momento é despertar a curiosidade pelo que existe fora do computador! Pracinha, parquinho e natureza são prioridade… mas filho não é receita de bolo… para o meu filho, tv agrega, sem dúvida, desperta a curiosidade e trás conhecimento, dentre tantos outros benefícios que percebo… porém, controlo de perto quais desenhos ele ve e não vemos canais abertos… enfim, cada criança tem uma necessidade e o mais importante é estarmos atentas! Bjs.

    • @Simone Martins, concordo muito com você. Nós também temos o costume de ver os desenhos, filmes juntos. É muito legal e tem sim muitas coisas legais pra ver. Muito melhor que antigamente que era bem tenso. O que eu vi que tava errado era tipo largar o menino lá e dar só aquela olhada de longe, distrair enquanto você tá ocupada e aquilo virar a rotina dele e o maior estimulo pra tudo. Sei que muitas mães não tem tempo de muita coisa e tem uma rotina maluca e é difícil gerenciar essa atenção as crianças ao trabalho, mas o esforço vale a pena. Vale muito mesmo. 🙂

      • sim, vale a pena! Você percebeu o que poderia ser melhor pra eles, teve coragem e fez… pra mim, isso é o que importa! Não é fácil trabalhar em casa… estou assim há 4 anos e não é mole… rsrsrs. Além de seu post ser muito bom, obrigada pelo carinho de ter respondido! E viva o Botafogo! 😉 Bjs e sucesso!

  4. Concordo com cada palavra Gabi. Tenho um filho de 8 anos, que sempre jogou apenas uma hora nos finais de semana, mas que tinha a TV mais liberada. Teve conjuntivite final do ano e cortei todas as telas e eletrônicos. O resultado foi sensacional. A criatividade aflorou, a calma, a atenção e a disposição em ajudar. Isso que sempre incentivamos e vamos com ele para a a rua brincar, subir em árvore, etc. Hoje ele mesmo abandonou o video game (salvo raras exceções) e assisti apenas filmes em família em sessões cinema regadas a pipoca e carinho. Que mais e mais pais abram os olhos para os delicados momentos de compartilhamento com os filhos e tenham a coragem de resistir aos contras. Grande abraço. Namastê 🙂

    • @Simoni Gomes, eu sei exatamente o que é isso. Parece que algo tem que acontecer pra gente ver com os nossos olhos que as coisas funcionam, né?! Gael ama vídeo game, mas a restrição pra só o final de semana e uma hora tem sido suficiente. Namastê

  5. Excelente! Adorei o texto e acredito mesmo que essas mudanças aconteceram e, claro, que não foi nada fácil. Eu não tenho filhos, mas se um dia os tiver, com certeza televisão e refrigerante estarão longe da rotina deles. Parabéns, os meninos são lindos.

  6. Gabi, amei seu blog e todo cuidado com o design e a escrita dos textos.. Amei ler as histórias sobre os meninos, que tive a oportunidade de conhecer no retiro de carnaval, e fiquei admirada com o comportamento criativo deles, principalmente o Levi já tão falante e cheio de ideias. Ainda não tenho filhos, mas acho lindo esse negócio de ser mãe e se reinventar todo dia, parabéns pelo trabalho! E um beijao

  7. Muito bom, Gabi!
    Tenho adotado (ou pelo menos tentado) fazer isso. Antes, quando eu morava em “apertamento”, era um bem mais difícil. Hoje temos uma casa com quintal, mas, mesmo assim, os eletrônicos são uma tentação pavorosa.
    Que nossas crianças sejam crianças!!!!!
    Bjs
    PS.: tenho um blog sobre maternidade, o Mãe Humana, por conta dele, também uma página no face. Posso postar o link pra essa matéria lá?

      • @Gabi Kopko, agora percebi que era uma espatula. Aposto que eles adoram ajudar quando tem algum serviço em andamento, e como dizia uma amiga ” trabalho de criança é pouco, mas que dispensa é louco”.

  8. oi gabi
    tenho 3 anjinhos:davi com 10 anos,gabriela com 6 e maria fernanda com 3.por questoes particulares eu e meu esposo ao nos casarmos resolvemos nao ter tv em casa entao meus filhos só veem tv na escola ou em algumas casas ue visitamos raramente e nunca em todos esses anos nenhum deles pediu ou sentiu falta,o unico problema é que os milhares de brinquedos são sempre poucos então minhas panelas,lanternas e objetos para uso oméstico viram brinquedos por sinal incriveis,mas em casa não há alienação por não conhecerem todos os personagens em alta ate mesmo porque na esscola eles dividem e aprendem com coleguinhas.estou feliz e satisfeita assim .beijos

  9. Gabi adorei o seu post, ainda não tenho filhos, mas vivencio essa realidade com os sobrinhos que adoram a “peppa” e os joguinhos no celular…
    Ah e as fotos estão demais!!

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